A vida em Calais // Life at "The jungle"

A Aventura dos Kits de Higiene // The Hygiene Kits Adventure

Como tudo aconteceu // How evertyhing happened

Olá a todos(as)!

Antes de mais quero pedir-vos desculpa pela demora deste artigo mas a verdade é que depois de toda a aventura dos kits, precisávamos de parar uns dias para descomprimir. Já estamos de volta ao trabalho e temos dedicado o nosso tempo a fazer uma grande limpeza no campo outra vez. Infelizmente é impossível manter o campo limpo por muito tempo porque para além de ser muita gente a viver no mesmo espaço, a população está sempre a aumentar e a mudar.

Falando agora do tópico principal deste post: os nossos/ vossos kits! Desde já, um muito obrigada novamente a todos (as) que nos ajudaram tanto com donativos, como com partilhas da campanha nas redes sociais. Fizeram toda a diferença neste processo e sinceramente, nunca pensamos que isto fosse possível. Quando tivemos a ideia da campanha, a nossa ideia inicial foi que não fossemos capazes de angariar nem metade do valor. Ficamos tão mas tão surpresos e gratos. Para nós, 9 dias era um período quase impossível mas vocês provaram que nada é impossível e fizeram com que a campanha fosse encerrada com sucesso em menos de 6 dias. Incrível! Ainda houve muita gente que quis contribuir mas não foi a tempo. Isto só prova que há imenso corações generosos por aí e isso renova a nossa esperança. É uma lufada de ar fresco depois de lidarmos com tantas histórias horríveis diariamente.

Como também foi tornado público, os Médicos Sem Fronteiras souberam do nosso projeto e quiseram dar o seu contributo. Como a organização tem muitos produtos em armazém, decidiram contribuir em géneros doando-nos: 1400 toalhitas húmidas, 1400 sabonetes, 1400 pastas de dentes e 700 escovas de dentes. Mal podíamos acreditar. Para além de nos "livrarem" da despesa de comprar sabonete, pastas e escovas de dentes, ainda nos deram quantidades a duplicar o que nos permitiu fazer um kit muito mais completo e recheado. Com este donativo fomos capazes de acrescentar em todos os kits um pente para pentear o cabelo. Sem dúvida que não foi um artigo barato mas era essencial, especialmente com a epidemia de piolhos no campo. É importante que os residentes escovem o cabelo e mantenham a área limpa.

Durante todo este processo da campanha fomos sempre fazendo visitas aos supermercados para ver onde poderíamos fazer o melhor negócio. Depois de muitas viagens a pé e de autocarro, descobrímos o sítio ideal para nós - o supermercado cash&carry Tempo. Entramos em contacto com a gerência que foi desde o ínicio super acessível e simpática connosco. Quando vimos que tínhamos o dinheiro todo necessário, fizemos a encomenda e passados uns dias foi-nos dito que era impossível venderem-nos 700 pentes. O fornecedor não tinha essa quantidade disponível e só nos podiam vender 600. Aceitamos e decidimos comprar os restantes 100 pentes em outras lojas. Assim fizemos, fomos a praticamente todas as Lilly's (lojas de produtos de higiene e cosmética com preços super acessíveis) de Belgrado. Depois de 11 lojas, atingimos o nosso objetivo.

Depois de tudo tratado, foi só esperar. Dois dias depois os produtos estavam na loja e podíamos ir busca-los. Como não temos carro e muito menos uma carrinha, pedimos ajuda aos nossos amigos voluntários espanhóis que logo se disponibilizaram para nos emprestar uma carrinha ir connosco buscar os produtos.

Ir buscar os produtos foi um momento muito emocionante para nós. Ver todos aqueles produtos, todo o nosso/ vosso esforço convertido em algo real foi incrível.

A fase seguinte foi a montagem. Os Médicos Sem Fronteiras disponibilizaram-nos a tenda deles para montarmos os kits e foi lá que todo o processo aconteceu. Foi um dia inteiro a preparar os produtos e a fazer uma linha de montagem. No ínicio pensamos que em três horas tínhamos os 700 kits montados, mas estávamos redondamente enganados! Foram 10 horas de trabalho, com uma pausa de 30 minutos para jantar com amigos nossos no campo. Definitivamente menosprezamos o tempo que demora a montar 700 kits que na verdade se convertem em 9100 produtos. É muito produto! Eram 5h quando acabamos o último kit e praticamente não conseguíamos mexer um músculo. Estávamos exaustos como nunca tínhamos estado da nossa vida! Mas era um cansaço que apesar de tudo, era bom. Foi bom sentir que o nosso dever estava cumprido.

No final tínhamos todos os kits montados e cada um continha:

  • 2 pastas de dentes
  • 1 escova de dentes
  • 2 pacotes de toalhitas
  • 2 sabonetes
  • 1 caixa para o sabonete
  • 2 giletes de barbear (tivemos ainda dinheiro para acrescentar mais uma gilete em cada kit!)
  • 1 rolo de papel higiénico
  • 1 pente

Seguiu-se a distribuição dos kits que sem dúvida, foi a melhor parte de todas. Falamos com muita gente sobre como devíamos fazer a distribuição, qual seria a melhor maneira de o fazer de forma justa. Algumas pessoas aconselharam-nos a distribuir tickets pelos residentes e depois montar um ponto de distribuição onde se formaria uma fila. Sinceramente, nós não gostamos desse método apesar de sabermos que resulta e que é bastante eficaz. Tínhamos que encontrar uma forma mais humana para fazer a distribuição e ao mesmo tempo justa, onde conseguíssemos ter o controlo e saber que cada pessoa só recebia um kit. Desde sempre tivemos a ideia de lhes dar na sua casa apesar de ser muito difícil porque eles estão em constante movimento. No entanto, depois de perguntarmos a vários residentes qual a melhor hora para fazer a distribuição e depois de muitas tentativas falhadas, descobrimos a melhor hora: 8h. A maior parte da população ainda está a dormir e está tudo muito calmo.

Dia 16 de Março de 2017 foi o dia escolhido. Nessa manhã todos os residentes foram acordados com uma prenda na sua cama e foi um momento muito bom para todas as partes. Mais uma vez, os nossos amigos espanhóis ajudaram-nos e todos juntos, transforma-nos aquela manhã numa manhã de Natal. Pudemos ver na cara dos residentes como aqueles items lhes faziam falta e a prova disso é que logo a seguir à distribuição, imensos residentes foram logo para a zona das casas de banho, com o kit debaixo do braço, fazer a sua higiene. Foi tão bom pessoal! Sentir que estamos a contribuir para a felicidade de quem mais precisa, de quem está tão deprimido e desesperado. Muitos deles queriam tanto fazer a barba e graças a nós, conseguiram. Andavam todos orgulhos pelo campo, a sentirem-se dignos novamente.

Ficámos muito satisfeitos de termos feito uma distribuição segundo aquilo em que acreditamos. É esta a parte boa de sermos voluntários independentes, podermos decidir as nossas próprias estratégias e métodos de atuação.

O projeto aqui continua, a limpeza continua a ser feita e brevemente vamos embarcar numa nova aventura. Mais detalhes virão no próximo post. Obrigada a todos!!! Vocês são os maiores!

Um beijo e até já,

Cláudia e Daniel

Hello everyone!

First of all, I want to apologize for the delay of this post but the truth is that after all the kits adventure, we needed to stop a few days to decompress. We're back to work and we have dedicated our time to doing a big cleaning in the barracks again. Unfortunately, it is impossible to keep the camp clean for long because, in addition to have a lot people living in the same space, the population is always increasing and changing.

Now about the main topic of this post: our / your kits! To begin, thank you once again for those who have helped us both with donations and with campaign shares on social networks. They made all the difference in this process and honestly, we never thought this was possible. When we got the idea of ​​the campaign, our initial idea was that we would not even be able to raise half of the value. We were so, so surprised and grateful. For us, 9 days was an almost impossible time frame but you proved that nothing is impossible and you have made the campaign successfully ended in less than 6 days. Amazing! There were still many people who wanted to contribute but it was too late. This only proves that there are immense generous hearts out there and that renews our hope. It's a breath of fresh air after the so many horrible stories that we hear every day.

As it was also made public, Doctors without Borders knew about our project and wanted to make their contribution. As the organization has many products in store, they decided to contribute in genders by donating us: 1400 wet wipes, 1400 soaps, 1400 toothpastes and 700 toothbrushes. We could hardly believe it. In addition to "getting rid" of the expense of buying soap, toothpaste and toothbrushes, they still gave us duplicate quantities which allowed us to make a much more complete and stuffed kit. With this donation we were able to add in all the kits a comb. It was not a cheap item but it was essential, especially with the lice epidemic it is important for residents to brush their hair and keep the area clean.

Throughout this campaign process we went to supermarkets multiple times to search for the best deal. After many trips on foot and by bus, we discovered the ideal place for us - the supermarket cash & carry Tempo. We got in touch with the management who was from the start super friendly and approachable with us. When realized that we had the money we needed, we made the order and after a few days we were told that it was impossible for them to sell us 700 combs. The supplier didn't have this quantity available and they could only sell 600. We accepted and decided to buy the remaining 100 combs in other stores. We went to pretty much all the Lilly's (hygiene and cosmetics stores with super affordable prices) in Belgrade. After 11 stores, we reached our goal.

After that, we just needed to wait. Two days later the products were in the store and we could go pick them up. As we don't have a car, let alone a van, we asked our Spanish volunteer friends for help and soon they offered to lend us a van and to go with us to get the products.

Going to get the products was a very exciting moment for us. See all those products, all of our effort converted into something real was amazing.

The next phase was assembly. The Doctors Without Borders made available to us their tent to assemble the kits and that was where the whole process happened. It was a whole day to prepare the products and make an assembly line. At first we thought that in three hours we had the 700 kits set up, but we were flatly mistaken! It was 10 hours of work, with a 30 minute break for dinner with friends in the barracks. We definitely underestimate the time it takes to assemble 700 kits that actually convert to 9100 products. It's a lot of products! It was 5 am when we finished the last kit and we could hardly move a muscle. We were exhausted as we had never been in our lives! But it was a tiredness that, after all, was good. It was good to feel that our duty was fulfilled.

We had all the kits assembled and each one contained:

  • 2 toothpastes
  • 1 toothbrush
  • 2 packages of wipes
  • 2 soaps
  • 1 box for soap
  • 2 razor blades (we still had money to add one more razor in each kit!)
  • 1 roll of toilet paper
  • 1 comb

There followed the distribution of the kits which undoubtedly was the best part of all. We talked to a lot of people about how we should do the distribution and what would be the best way to do it fairly. Some people advised us to distribute tickets for the residents and then set up a distribution point where a queue would form. Honestly, we don't like this method even though we know it works and is quite effective. We had to find a more humane way to make the distribution and at the same time in a fair way, where we could be in control and know that each person only received one kit. We have always had the idea of ​​giving them in their house, although it's very difficult because they are constantly moving. However, after asking a lot of residents the best time to do the distribution and after many failed attempts, we discovered the best time: 8am. Most of the population is still sleeping and everything is very quiet.

March 16th of 2017 was the chosen day. In that morning all the residents were woken up with a gift on their bed and it was a very good time for all people involved. Once again, our Spanish friends have helped us and together, we transformed that morning on a Christmas morning. We could see in the residents' face how they were missing those items and the proof of this is that soon after the distribution, a lot of residents went to the bathroom area, with the kit under their arm, to do their hygiene. It was so good guys! Feeling that we are contributing to the happiness of those who need it most, to those who are so depressed and desperate. Many of them wanted to shave so much and thanks to us, they could. They were all proud in the barracks, feeling clean again.

We're very pleased that we've made a distribution according to what we believe. This is the good part of being independent volunteers, we can decide our own strategies and methods of action.

The project continues here, the cleaning continues and we will soon embark on a new adventure. More details will come in the next post. Thank you all!!! You are the best!

A kiss and see you soon,

Cláudia and Daniel

Os Avanços // The Progress

Devagar mas a andar - Terceiro Capítulo // Slowly but surely - Third Chapter

1 de Março de 2017 

Olá a todos (as)!

Então, vamos lá fazer um update do que se passa por aqui :)

O nosso projeto tem vindo a avançar bastante nos últimos tempos. Por um lado, tem sido bastante complicado porque o peso do lixo é muito e às vezes parece que não estamos a avançar nada. Perdemos horas a destruir uma pilha de lixo. Por outro lado, tem sido muito bom pela ajuda que os residentes nos tem dado. Residentes e voluntários, mas sem dúvida, a ajuda vem mais dos residentes. Ultimamente temos tido a presença constante de um menino espetacular de 13 anos, o Alik. O inglês dele está longe de ser perfeito mas a sua atitude é das coisas que me dá mais coragem para trabalhar. Ele sabe que não tem que o fazer, que pode ir jogar à bola com os outros rapazes mas ele prefere sempre ajudar-nos. Quer estar sempre envolvido em todas as tarefas e tem sempre um respeito incrível pelo nosso trabalho. Recentemente os Médicos sem Fronteiras deram-nos senhas para banhos e pacotes de comida para dar a quem nos ajudar, como uma forma de agradecimento/ incentivo. Se há pessoa que eu adoro mimar com tudo o que posso é o Alik. Temos a sorte de ter mais "Alik's" no campo, meninos e homens incríveis que estão do nosso lado, nos apoiam, que nos tratam como irmãos e têm sempre um sorriso para nos dar, independentemente do tempo, das condições e do humor com que estão.

No entanto, há sempre o lado mau e sobre este lado também é muito importante falar. Fazer estes posts não é só sobre falar das partes boas. Também temos experienciado partes menos boas. Infelizmente, como em qualquer lado, nem todos fomos educados da mesma forma o que gera diferentes atitudes, valores e comportamentos. Nem toda a gente no campo respeita o nosso trabalho. Muitas vezes chegamos para trabalhar e vemos lixo no sítio que limpamos no dia anterior ou vemos alguns residentes a porem lixo no chão na nossa cara. Não é fácil. Se é frustrante? É. Há momentos em que a vontade é desistir e surgem muitas perguntas. Nem sempre o trabalho voluntário é justo. Nem sempre sentimos que o trabalho que estamos a fazer está a ser apreciado ou pelo menos, reconhecido. Mas é aí que está o desafio. Não podemos desistir. Por muito que limpar o lixo nestas condições seja o trabalho mais difícil que fiz na vida (fisicamente), vou faze-lo até sentir que a missão está cumprida. É preciso pensar que estes homens foram educados de uma forma diferente da nossa e pelo que ouvi de outros residentes e mesmo dos Médicos sem Fronteiras, em algumas zonas de onde eles vêm, o lixo no chão é parte do quotidiano. Talvez eles estejam habituados assim e eu tenho que me convencer que não vou mudar mentalidades num mês e meio. Para se ser um bom voluntário é preciso ser-se realista e se formos para uma missão com a ilusão que vamos mudar o mundo, vamos acabar bastante desiludidos. O que importa é nunca perder a força e dar sempre o nosso melhor em qualquer tarefa. Todos os dias me foco em todos os "Alik's" deste campo para ter força de continuar porque sim, este campo tem muita gente maravilhosa que nos respeita muito.

Deixando agora a parte menos boa, vamos a factos bons. A parte do campo que nos comprometemos a limpar está, devagarinho, a chegar longe. Temos instalado imensos sacos do lixo brancos (são a marca que passamos pelo sítio e nós adoramos:)), temos conversado com os residentes sobre a importância de usar os sacos e manter o espaço limpo e nos últimos dias instalamos cartazes a pedir exatamente isso em três línguas: farsi, urdu e pashto. Este cartaz é muito especial para mim porque a frase em pashto foi traduzida por um amigo meu do Afeganistão que conheci em Calais. É bom ter uma ligação com o passado e sentir que todos nos ajudamos mutuamente. Para já os cartazes foram muito bem aceites pelos residentes e temos esperança que sejam um lembrete diário.

Estamos agora a preparar um novo projeto e vamos precisar da vossa ajuda. Muito mesmo! Se houve algum momento em que sentiram que gostavam de ajudar estas pessoas, esta pode ser uma óptima oportunidade. O projeto está prestes a sair. :)

Em baixo fica uma galeria de fotos onde podem ver os avanços da limpeza no campo e os cartazes.

Um agradecimento especial pelo apoio incondicional dos que são meus e daqueles que me querem bem. A vossa força é fundamental. Acreditem.

Um beijo e até já,

Cláudia

March 1st 2017

Hello everyone!

So let's do an update of what's going on here :)

Our project has been making good progress. In one hand, it has been quite complicated because the weight of the trash is too much and sometimes it seems that we are not advancing at all. We spend hours destroying a pile of trash. In other hand, it has been very good because of the help that the residents have been given us. Residents and volunteers, but undoubtedly, the help comes more from the residents. Lately we have had the constant presence of a spectacular 13 year old boy, Alik. His English is far from perfect but his attitude is one of the things that gives me courage to work. He knows that he doesn't have to do it, that he can go play with the other guys but he always prefers to help us. He always wants to be involved in every task and has an incredible respect for our work. Doctors Without Borders recently gave us shower vouchers and food packages to give to those who help us, as a form of thank-you / encouragement. If there's one person I love to pamper with all I can is the Alik. We are fortunate to have more "Alik's" in the camp, incredible boys and men who are on our side, support us, treat us like brothers and always have a smile to give us, regardless of the weather, conditions and mood.

However, there's always the bad side and it's also very important to talk about this side. Making these posts is not just about talking about the good parts. We have also experienced less good parts. Unfortunately, as elsewhere, not all of received the same education which generates different attitudes, values ​​and behaviors. Not everyone in the camp respects our work. Sometimes we go to work and we see trash in the place that we've cleaned the day before or we see some residents putting trash on the floor in our faces. It's not easy. Is it frustrating? Yes, it is. Sometimes I just want to give up. Volunteer work is not always fair. We don't always feel that the work we are doing is being appreciated or at least, recognized. But that's where the challenge lies. We can't give up. As much as cleaning up the trash in these conditions is the hardest job I've ever done in my life (physically) I'll do it until I feel the mission is done. It's also necessary to think that these men were educated in a different way from us and from what I've been told from other residents and even Doctors Without Borders, in some areas from where they come, trash on the floor is part of daily life. Maybe they're used to it and I have to realize that I will not change minds in a month and a half. To be a good volunteer you have to be realistic and if you go to a mission with the illusion that you are going to change the world, you will end up quite disappointed. What matters is never lose the strength and always give our best in any task. Every day I focus on all the "Alik's" of this camp to have strength to continue because yes, this camp has a lot of wonderful people who respect us a lot.

Moving on now from the less good part, let's go to good facts. The part of the camp that we've commit to clean up is slowly coming a long way. We have installed lots of white trash bags (they are the mark that we've passed through and we love it :)), we have talked to the residents about the importance of using the bags and keeping the space clean and in the last few days, we installed posters asking exactly that in three languages: Farsi, Urdu and Pashto. This poster is very special to me because the phrase in Pashto was translated by a friend of mine from Afghanistan that I met in Calais. It's good to have a connection with the past and to feel that we all help each other. For now the posters were very well accepted by the residents and we hope they are a daily reminder.

We are now preparing a new project and we will need your help. A lot! If there ever was a time when you felt that you would like to help these people, this could be a great opportunity. The project is about to pop out the oven. :)

Below is a photo gallery where you can see the progress of the cleaning and the posters.

Special thanks for the unconditional support of those who love and care for me. Your support is crucial. Believe me.

A kiss and see you soon,

Cláudia

O Projeto // The Project

Lixo, lixo e mais lixo - Segundo capítulo // Trash, trash and more trash - Second chapter

O antes e o depois // Before and after
O antes e o depois // Before and after

15 de Fevereiro de 2017

Olá a todos (as)! 

Hoje venho-vos então explicar o que ando por aqui a fazer. Ora bem, como já sabem, estou em Belgrado há pouco mais de três semanas e das primeiras coisas que fiz quando cheguei foi visitar o espaço onde iria trabalhar - as barricadas. Para além disso fiz questão de contactar todas as ONG's a atuar aqui para ver de que forma estavam a trabalhar no terreno e se me interessava juntar-me a elas. Após várias visitas e conversas, tanto eu como o Daniel, decidimos que não nos identificávamos com nenhuma a 100%. Respeitamos imenso o trabalho de todas e continuamos a trabalhar todos em rede, simplesmente achamos que poderíamos fazer algo diferente que ainda não estava a ser feito.

Como podem ver nas fotografias da galeria do post anterior, se há coisa que não falta neste campo (barricadas), é lixo. É tanto que parece que nasce do chão. Como é de calcular, lixo atrai todo o tipo de animais e o que mais vemos por aqui é ratos e ratazanas. A sarna e os piolhos também têm sido um problema. Os Médicos sem Fronteiras têm feito todos os possíveis para tratar estas epidemias, mas nestas condições é muito difícil. Depois de algumas horas a pensar o que poderíamos fazer por estas pessoas, tomamos uma decisão: vamos limpar o campo! (Neste momento devem estar a pensar que somos malucos em querer limpar isto tudo sozinhos. Talvez sim mas tentar não custa.)

Mal tomada a decisão, veio a parte logística: como vamos fazer isto? De que precisamos? Fizemos uma lista mental de coisas necessárias como: luvas, máscaras, sacos do lixo e ferramentas como pás e ancinhos. Como somos voluntários e estamos a suportar todas as nossas despesas, não podíamos comprar todo este material. Ao falar com outros voluntários no campo, alguém nos aconselhou a ir falar com os Médicos sem Fronteiras porque são eles que estão responsáveis pela recolha de lixo. Assim fizemos. A nossa ideia foi muito bem aceite e desde então temos sido ajudados por eles. O Reggie (Coordenador de Campo dos Médicos sem Fronteiras) tem-nos ajudado todos os dias com o material que precisamos (sacos plásticos, máscaras e ferramentas). Nós fazemos o trabalho, eles providenciam o material. Ótimo acordo! :)

Trabalhar no campo tem sido uma experiência muito boa. Não posso dizer que é fácil porque não é. A ideia inicial era trabalharmos o dia inteiro mas isso rapidamente desapareceu da nossa cabeça quando começamos efetivamente o trabalho. É super duro no corpo e todo o lixo das fotos parece o triplo quando o estamos a recolher. Há camadas e mais camadas... parece que nunca tem fim.

O trabalho é difícil, mas temos tido ajuda de residentes do campo todos os dias. Pessoas maravilhosas que querem fazer parte desta mudança. Sei que muitos podem achar que eles não fazem mais que a sua obrigação, e eu entendo. No entanto, é preciso também pensar que estas pessoas não têm qualquer ligação emocional a este espaço. Pelo contrário, desprezam-no. Depois de tantos meses a ver o espaço sujo eles habituaram-se e como o lixo é tanto, a motivação para o limpar é nenhuma. É isso que eu e o Daniel lhes viemos trazer: motivação. Mal começamos o trabalho durante a tarde eles começam-se logo a juntar a nós e a pedir ferramentas para poderem trabalhar. Todos os dias temos a ajuda do Safíola, um amor de pessoa que leva este trabalho tão a sério como nós. Tem sido maravilhoso trabalhar lado a lado com eles, ouvir música, passar um bom bocado enquanto melhoramos as condições de vida destas quase 1000 pessoas. Quase todos os dias alguém cozinha para nós numa espécie de "agradecimento". Eles olham para nós como amigos e têm um prazer enorme em partilhar connosco o pouco que têm. É tão bom sentir que há esta relação tão genuína entre nós. Ultimamente eu e o Daniel também temos contribuído para estes momentos de partilha e temos levado biscoito ou bolachas para dividir com a equipa que trabalhou nesse dia. Eles adoram e nós também :)

Ontem tivemos a ajuda de uma voluntária italiana e acreditamos que mais voluntários se vão juntar a nós. Já temos mais pessoas interessadas, agora falta é mais material. Começamos a equipa com duas pessoas e agora já está a crescer. Sabemos que temos imenso trabalho pela frente mas todos os dias, depois de cada bocado que limpamos, sentimos um orgulho que não sei explicar. As dores no corpo são das melhores que senti na vida. Quem precisa de ginásio? Ahah

Outra coisa que estamos a implementar são os sacos do lixo. Por cada 5 ou 10 metros que limpamos colocamos um saco do lixo. Antes não havia no campo por isso eles também não tinham grandes opções de onde por todo o lixo. Agora têm e usam! :) O próximo passo - que já está em andamento - são cartazes a pedir para não por lixo no chão. Neste momento estão a ser traduzidos por tradutores dos Médicos sem Fronteiras. Quando estiverem prontos junto uma foto à galeria.

O nosso plano inicial era, para além de limpar, construir um wc e instalar um sistema de extração de fumos nos edifícios onde eles dormem. No entanto, viemos a descobrir que o governo tenciona destruir as barricadas em Março. Assim sendo, não vale a pena investir tempo e dinheiro em sistemas sofisticados. Os residentes têm arranjado uns tubos para extrair os fumos e o wc vai continuar a ser a natureza, infelizmente. Mesmo sabendo que tudo possa ser destruído no espaço de um mês vamos continuar o nosso trabalho e tentar limpar este campo. Nunca é tarde para tentar melhorar o espaço onde tanta gente tem que viver. Nós vamos dar o nosso melhor.

Por enquanto é isto. Desculpem o post tão longo mas não consegui que fosse mais pequeno. Havia muito para contar. O terceiro capítulo sai em breve com mais updates.

Um beijo a todos e até já,

Cláudia 

Trabalho de equipa // Team work
Trabalho de equipa // Team work

February 15th 2017

Hello everyone!

Today i'm going to talk about what i'm doing here. As you know, I have been in Belgrade for a little over three weeks, and one of the first things I did when I arrived was to visit the space where I was going to work - the barricks. I also contacted all the NGOs working here to see how they were working on the ground and whether I was interested in joining them. After several visits and conversations, both Daniel and I decided that we didn't identify with any of them at 100%. We respect everyone's work immensely and we continue to work all networked but we thought that we could do something different that was not done yet.

As you can see in the photos from the gallery of the previous post, if there is something overwhelming in this camp (barracks), it's trash. Is so much that it seems that never ends. As predicted, trash attracts all kinds of animals and what we see most here is rats. Scabies and lice have also been a problem. Doctors Without Borders have done everything possible to treat these epidemics, but under these conditions it's very difficult. After a few hours thinking about what we could do for these people, we made a decision: let's clean the camp! (At this point, you must be thinking that we're crazy to want to clean it up on our own. Maybe yes, but trying doesn't hurt.)

After madding the decision, came the logistics: how are we going to do this? What do we need? We made a mental list of the necessary things like: gloves, masks, trash bags and tools like shovels and rakes. Since we are volunteers and we bear all of our expenses, we couldn't buy all of this material. After talking to other volunteers in the camp, someone advised us to go and talk to Doctors Without Borders because they are responsible for collecting garbage. So that's what we did. Our idea was very well accepted and since then we have been helped by them. Reggie (MSF Field Coordinator) has helped us every day providing the materials we need (plastic bags, masks and tools). We do the work, they provide the material. Great deal! :)

Working in the camp has been a very good experience. I can't say it's easy because it's not. The initial idea was to work all day but that quickly disappeared from our minds when we actually started work. It's super hard on our bodies and all the trash in the photos seems triple when we're collecting it. There are layers and more layers ... it seems like there's never an end.

The work is difficult, but we have had help from residents of the camp every day. They're wonderful people who want to be part of this change. I know that many may think that they don't do more than their obligation, and I understand. However, we must also think that these people have no emotional connection to this place. On the contrary, they despise it. After so many months living in this dirty place they got used to it and they don't have any motivation to clean it. That's what Daniel and I came to bring: motivation. As soon as we start work in the afternoon they begin to join us and ask for tools to work. Every day we have Safíola's help, a lovely guy that takes this work as seriously as we do. It has been wonderful working side by side with them, listening to music, having a good time while improving the living conditions of these almost 1000 people. Almost every day someone cooks for us in a kind of "thank-you" gift. They look at us as friends and they have a huge pleasure in sharing with us what they have. It feels so good to feel that there is such a genuine relationship between us. In the last couple of days we have also contributed to these sharing and we have been taken biscuit and cookies to share with the team that worked that day. They love it and we love it too. J

Yesterday we had the help of an Italian volunteer and we believe that more volunteers will join us. We already have more people interested, now the only thing we need is more material. We started the team with two people and now it's growing. We know that we have a lot of work ahead of us, but every day, after every bit we clean, we feel a pride that I can't explain. The pain in my body is one of the best I've ever felt in my life. Who needs the gym? Ahah

Another thing we are implementing are the trash bags. For every 5 or 10 meters we cleaned we put a trash bag. Before they didn't had any in camp so it was hard to have a place to put the trash. Now they have and they use it! :) The next step - which is already in progress - are posters asking to not put trash on the floor. At the moment they are being translated by Doctors Without Borders translators. When they're ready I'll put a photo in the gallery.

Our initial plan was to clean and build a toilet and install a smoke extraction system in the buildings where they sleep. However, we find out that the government intends to destroy the barracks in March so it's not worth investing time and money in sophisticated systems. The residents have arranged pipes to extract the fumes and the toilet will continue to be the nature, unfortunately. Even knowing that everything can be destroyed in the space of a month we will continue our work and try to clean this camp. It's never too late to try to improve the living conditions of these people. We'll do our best.

That's it for now. Sorry for the long post but I couldn't make it smaller. There was too much to tell. The third chapter comes out soon with more updates.

A kiss to all and see you soon,

Cláudia

Sérvia, cheguei! // Serbia, im here!

O que se está a passar em Belgrado - Primeiro capítulo // What's happening in Belgrade - First chapter


4 de Fevereiro de 2017


Depois de quase duas semanas em Belgrado já me sinto em condições de escrever as primeiras palavras. Isto porque arranjar casa nesta cidade é um verdadeiro desafio. Para as pessoas que acham (como eu) que é super fácil alugar casa aqui, desenganem-se. Para além de praticamente ninguém querer alugar por um período de tempo curto - eu vou ficar três meses - esta cidade tem uma procura gigante. No momento em que o anúncio sai, a probabilidade de já haver lista de espera é muito grande. Mas pronto, finalmente estou instalada. Acabei por ficar a viver num hostel. Tenho o melhor dos dois mundos, conheço novas pessoas e ainda assim tenho um quarto privado. Óptimo :) Já queria ter publicado aqui há algum tempo mas foi muito complicado. Arranjar um poiso definitivo era a prioridade.

Agora em relação ao que me trouxe à Sérvia - refugiados. Ora então, o cenário que está aqui montado é simplesmente deplorável. A primeira vez que entrei nas barricadas - termo que os voluntários usam para se referir ao campo - foi um choque. O fumo é super intenso, os cheiros são indescritíveis e a cara das pessoas é triste. Muito muito triste. Parece um cenário de pós-guerra. As temperaturas aqui atingem os -20º e estes homens (não há mulheres) estão a dormir dentro de armazéns abandonados (todos destruídos) atrás de uma estação de comboios. Dentro dos armazéns não há luz, calor, conforto, nada. É escuro, molhado, mal-cheiroso e assustador. É neste cenário que eles dormem. Com meia dúzia de cobertores e sacos-cama e alguns com tendas, centenas de homens aquecem-se a fazer fogueiras de lixo. Lixo é o que não falta nas barricadas. Quilos, quilos e mais quilos. Fumo é outro elemento presente. Constante. Alguns voluntários independentes e organizações estão a arranjar maneiras de providenciar lenha para que eles não tenham que queimar o lixo que os rodeia.

A maior parte da comunidade é afegã havendo também homens do Paquistão e da Síria. Muitos são menores e vivem longe das suas famílias. Tal como em Calais, nenhum aparenta a idade que tem. Estão cheios de marcas na pele daquilo que já viveram e que seguramente não foi bom. Até agora todos foram extremamente simpáticos e acolhedores connosco. Parte-me o coração caminhar por aquelas barricadas, falar com eles e perceber que muitos já vivem ali há quase um ano ou mais. Miúdos, literalmente míudos, a viverem no meio do cenário mais horrível que já vi (e eu achei que a Jungle era terrível - e era). Vivem como animais. Escrevem nas paredes mensagens de desespero, pedem ajuda de todas as formas que sabem. As condições são tão más que estes homens não têm uma casa de banho. Todas as necessidades e banhos são feitos ao ar livre, quer chova, neve ou faça sol. Alguns, com o frio, já começaram a utilizar armazéns para o fazer.

E comida? Comida só vem uma vez por dia e a dose é muito pequena. Um grupo de voluntários - também independente - alugou um espaço e com a ajuda de em média 8 pessoas por dia, cozinham para eles. Como os recursos são reduzidos é impossível que as porções da comida sejam maiores. Outro grupo de voluntários, vindos de Espanha, está a agora a tentar montar uma cozinha de forma permanente no campo com o objetivo de providenciar mais uma refeição por dia - o jantar. Alguns refugiados que têm dinheiro vão comendo nos mercados ou nas pastelarias á volta da estação, mas muitos não têm o que faz com que tenham uma refeição minúscula. Um homem a viver com cerca de 200 gramas de comida por dia. Inacreditável.

Ponho-me a pensar e fico tão desiludida. Nós estamos a falhar. As fronteiras estão fechadas, ninguém os deixa passar e também não é opção voltar para o sítio de onde estão a fugir. O que fazer? Uns miúdos hoje disseram-me que vão pagar a um agente para os levar até Itália. Vão ter que andar durante dias e vão pagar 3000€. Têm família em Inglaterra e querem ir ter com eles. Não há garantias que cheguem seguros. Isto não é justo.

Muitos estão doentes. A tosse é um som que faz parte do cenário. Uns estão a tossir porque estão doentes pelas condições e temperaturas a que estão expostos e outros pelo fumo. Os Médicos Sem Fronteiras estão aqui presentes e vão fazendo o que podem. Para além de lhes darem cuidados de saúde, têm um espaço onde eles podem tomar banho no entanto, hoje andei a perguntar se eles o utilizavam e muitos disseram que é complicado porque têm que esperar na fila o dia inteiro. Ainda assim, esperam.

É triste que o governo sérvio esteja a bloquear os movimentos de ajuda. A distribuição de bens tem regras que nunca mais acabam (por isso muitas ONG's ou doadores singulares fazem-no em sítios aleatórios para que a polícia não saiba) e tudo o que seja para melhorar o campo a polícia está contra. Basicamente eles não querem que eles se instalem aqui mas também ninguém os deixa passar. O governo criou campos mas estes não têm capacidade para todos e há deles onde a polícia não é muito agradável. Assim sendo eles têm medo e não querem ir.

Eu e o Daniel - meu namorado, voluntário e colega de equipa - talvez não nos associemos a nenhuma ONG. Até agora não houve nenhuma que nos entusiasmasse muito e nós temos umas ideias muito giras para ajudar estes homens que tanto precisam. O nosso projeto aqui vai começar a ser desenvolvido e estamos crentes que vai fazer uma grande diferença nestas barricadas. Vou-vos pondo a par de todo o processo. Quem estiver interessado é só seguir os posts.

Um beijo e até já,

Cláudia

February 4th 2017


After almost two weeks in Belgrade I feel ready to write the first words. Getting a house in this city is a real challenge. For people who think (like me) that it's super easy to rent a house here, forget it. Apart from almost no one wanting to rent for a short period of time - I will stay three months - this city has a giant demand. At the time the add is published, the waiting list is likely too large. But that's it, I'm finally settled. I ended up staying in a hostel. I have the best of both worlds, I know new people and yet I have a private room. Great :)

Now talking about what brought me to Serbia - refugees. Well then, the scenario that is set up here is simply deplorable. The first time I entered the barricades - a term that volunteers use to refer to the camp - was a shock. The smoke is super intense, the smells are indescribable and people's faces are sad. Very, very sad. It looks like a post-war scenario. Temperatures here range to -20º and these men (there are no women) are sleeping inside abandoned warehouses (all destroyed) behind a train station. Inside the warehouses there is no light, no warmth, no comfort. It's dark, wet, smelly and scary. They sleep in this scenario. With half a dozen blankets and sleeping bags and some with tents, hundreds of men are warming up making garbage fires. There's trash everywhere. Kilos, kilos and more kilos. Smoke is another element always present. Constant. Some independent volunteers and organizations are finding ways to provide firewood so they do not have to burn the garbage around them.

Most of the community is Afghan and there are also men from Pakistan and Syria. Many are underage and live far from their families. Just like in Calais, no one looks the age they are. They a lot skin marks symbol of what they have already lived and that surely was not good. So far everyone was extremely friendly and welcoming with us. It breaks my heart to walk through those barricades, talk to them and realize that many have been living there for almost a year or more. Kids, literally kids, live in the most horrible scenery I've ever seen (and I thought the Jungle was terrible - and it was). They live like animals. They write on the walls messages of desperation, they ask for help in every way they know. The conditions are so bad that these men don't have a bathroom. All the necessities and baths are made outdoors, whether it rains, snow or shine. Some, with the cold, have already begun to use warehouses to do so.

And food? Food only comes once a day and the portions are very small. A group of volunteers - also independent - rented a space and with the help of an average of 8 people a day, cook for them. Since the resources are reduced it's impossible to give them more food. Some volunteers from Spain are now trying to set up a permanent kitchen in the barricades with the aim of providing one more meal a day - dinner. Some refugees have money and they eat in the markets or in the pastry shops around the station. However the majority can't afford that so they have to live with a tiny meal a day. A man living with about 200 grams of food a day. Unbelievable.

When I start to think about this I get so disappointed. We're failing. The borders are closed, no one lets them pass, and there is no option to return to the place from which they are escaping. What to do? Some kids today told me that they're going to pay an agent to take them to Italy. They will have to walk for days and they will pay 3000 €. They have family in England and they want to go to join them. There are no guarantees that they'll arrive safe. This is not fair.

Many are sick. The coughing sound is part of the scenery. Some are coughing because they are sick due the conditions and temperatures they are exposed to and others from inhaling the fumes. The Doctors Without Borders are here and they are doing what they can. In addition to giving them health care, they have a space where they can take a shower, however, today I was asking if they used it and many said it is complicated because they have to wait in line all day. Still, they wait.

It's sad that the Serbian government is blocking aid movements. The distribution of goods has a lot of rules (so many NGOs or singular donors do it in random places so the police don´t know) and anything to improve the barricades it's prohibited by the police. Basically they don't want them to settle here but nobody is letting them through. The government has created camps but these don't have space for everyone and there are some where the police are not very nice. They are afraid and they don't want to go.

Me and Daniel - my boyfriend, volunteer and team mate - may not associate with any NGOs. So far there haven't been any that excited us much and we have a lot of ideas to help these men. Our project here will start to be developed and we believe that will make a big difference on these barricades. I'll keep you updated about the whole process. If you're interested you just need to follow the posts.

Kiss,

Cláudia

10 coisas que aprendemos no campo // 10 things we've learned in the jungle


1. Não é preciso ter medo

Obviamente que, como em todo o lado, há perigos. É só imaginar como será ter 11.000 pessoas revoltadas com a situação em que vivem e a injustiça de que estão a ser alvo, e pensar que nem sempre estão contentes. No entanto, a verdade é que a Jungle é um sítio bem sereno. Obviamente que não podemos dizer que, de vez em quando, não havia alguém mais agressivo verbalmente ou alguém que ameaçasse que ia fazer alguma coisa porque não conseguiu um cobertor nesse dia, mas no fundo os atos de violência eram pequenos e na maioria das vezes, parados por outros refugiados que se protegiam uns aos outros e também aos voluntários. Por mais que seja difícil acreditar, na Jungle nós sentíamo-nos seguras e 100% tranquilas.

2. As pessoas que menos têm são aquelas que mais dão

Seria difícil imaginar que, pessoas que vivem em tendas de campismo, com tão pouco para si, oferecessem algo a quem passa, mas a realidade é que isso acontece e na Jungle vimos dos maiores atos de altruísmo e generosidade de sempre! Toda a gente era super acolhedora e fazia questão de dizer 'Good Morning' ou 'Welcome', de nos cumprimentar com um sorriso, um aperto de mão ou um abraço sentido, todos os dias e todas as vezes que passavam por nós. Não temos dedos suficientes para contar as vezes que nos convidaram para beber chá ou café nos seus abrigos, ou ainda para as vezes que passámos por uma tenda onde estavam grupos de 5 ou 6 refugiados a almoçar à volta de um prato de sopa e nos ofereciam um pouco. Incrível!

3. Eles têm restaurantes, lojas, ginásios e discotecas no campo

Sim, antes de irmos para Calais lemos sobre o campo, mas não fazíamos ideia do número de lojas e restaurantes que íamos encontrar. Sabíamos que os residentes estavam a tentar ao máximo ter uma vida normalizada e transformar o campo numa minicidade e a verdade é que conseguiram. As lojas e os restaurantes situavam-se nas ruas principais do campo. Ao mesmo tempo que lhe davam vida, funcionavam como sustento para muitas pessoas (nós incluídas). Muitos compravam bens para as suas refeições ou snacks para comerem durante o dia. Outro espaço muito interessante na Jungle era o ginásio construído de raiz pelos residentes. Nele podiam usufruir de aulas de artes marciais ou outras modalidades. Durante a noite, muitos residentes iam para a discoteca (improvisada dentro de 4 placards de madeira) em busca de alguma diversão.

4. A nacionalidade mais comum não é a Síria

Sim, pelos eventos mais recentes que envolvem a crise de refugiados é normal associar-se a palavra "refugiado" a alguém de nacionalidade Síria. Mas a verdade é que, no campo de Calais, a maioria das pessoas eram de nacionalidade Sudanesa e Afegã. Isto não nos surpreendeu porque sabíamos disto antes de ir, mas permitiu-nos aprender mais sobre as crises vividas em países como o Sudão e a Eritreia sobre as quais não sabíamos muito.

5. Quase ninguém aparenta a idade que tem

Sim, dizer a idade de alguém na Jungle era um verdadeiro desafio. Todos parecem muito mais velhos do que o que são. Claro que com alguns menores conseguíamos perceber que eles eram menores, mas geralmente também não acertávamos nas idades. Isto acontece porque viver nestas condições e crescer nos ambientes que eles crescem, faz com que envelheçam muito mais depressa.

6. Eles conhecem Portugal por causa do Cristiano Ronaldo

A quantidade de bandeiras portuguesas espalhadas pelo campo deixou-nos surpreendidas e super orgulhosas do nosso País! Muitos deles diziam que queriam ir para Portugal (por saberem que é um país disposto a receber refugiados) mas o principal motivo pelo qual o conhecem, é mesmo o nosso capitão Cristiano Ronaldo. 99% dos refugiados com quem falámos, depois de dizer que éramos portuguesas perguntavam "Cristiano Ronaldo?" e a partir daí nós já não tínhamos nome, éramos as duas Cristiano Ronaldo!

7. A comida era mesmo boa!

Como vos explicámos eles têm restaurantes no campo, e para além disso, cozinham com alimentos que lhes são fornecidos (ou até mesmo comprados). Tivemos oportunidade de provar comida afegã e sudanesa e podemos dizer que é deliciosa (para quem conhece a Dani sabe que ela é uma esquisita a comer e até ela gostou!). Num dos nossos posts dissemos que todos os dias íamos comprar Naan para acompanhar o nosso almoço e acreditem, é uma das coisas das quais temos mais saudades!

8. Todos nós podemos ajudar e fazer a diferença

Nós sabemos que parece um cliché, daqueles que toda a gente está habituada a ouvir, mas acreditem que é mesmo verdade! Cada um de nós, contribuindo para um coletivo mais forte, pode mesmo fazer a diferença. Quando falamos desta aventura é comum ouvirmos pessoas dizer: "Parabéns pela atitude! O mundo precisa de mais gente como vocês" quando na verdade, cada um de vocês pode ser como "nós". Na realidade (e nós sabemos que é outro cliché) nós devemos ser a mudança que queremos ver no mundo e a verdade é que CADA UM DE NÓS pode ser essa mudança. É só querermos!

9. Dar valor ao que temos

Depois de estar um mês e meio na Jungle é muito difícil para nós olhar para a vida da mesma forma. Aprendemos a relativizar os nossos problemas porque, na verdade, há coisas que são bem piores e agora temos a perfeita consciência disso. É importante dar valor a tudo o que temos principalmente aos nossos amigos, família e ao facto de vivermos num país que nos permite viver em Paz.

10. Um dia podemos ser nós

Estar lá e receber pessoas todos os dias vindas de tantos sítios diferentes, de tantas circunstâncias de vida diferentes, fez-nos perceber que nem sempre acontece ao vizinho e que ninguém está livre que um dia a guerra lhes bata à porta. Recebemos pessoas que há uns meses atrás tinham grandes profissões nos seus países e foram parar à Jungle, a viver numa tenda de campismo. Todos procuram a mesma coisa: uma vida em paz e sossego, digna e feliz. Todos nós temos que ser mais compreensivos e aceitar estas pessoas nos nossos países, nas nossas cidades nunca esquecendo que se fosse ao contrário, era assim que gostaríamos de ser tratados. 

1. There's no need to be afraid

Obviously, like everywhere, there are some dangers. Just imagine having 11000 people angry with the situation they are living in. They are not always happy, but the truth is, deep down, the Jungle is a very serene place. Obviously we can't say that, from time to time, there wasn't someone more verbally aggressive or someone threatening to do something bad because it's a lie. Sometimes some of them were mad because they could not get a blanket (or other aid) that day, but in essence, acts of violence were small and most of them sometimes were stopped by other refugees who protect each other and also the volunteers. Even if it is hard to believe, the Jungle for us felt safe and quiet.

2. People who have less are those that give the most

It would be hard to imagine that people living in camping tents, with so little to themselves, would be the ones offering something to those around but, the reality is that it happens and we saw the most amazing acts of generosity in the Jungle! Everyone is super friendly and insist to be polite saying 'Good morning' or 'Welcome'. The majority always greeted us with a smile, a handshake or a hug every day and every single time they passed through us. We don't have enough fingers to count the amount of times that we were invited to drink tea or coffee in their shelters, or the times we passed a tent where there were groups of 5 or 6 refugees having lunch around a bowl of soup and offered us a little. Really generous. It was amazing!

3. They had restaurants, shops, gyms and clubs in the jungle

Yes, before we went to Calais we read about the jungle, but we had no idea ​​the number of shops and restaurants that we would find. We knew that, inside the Jungle, they were trying to have the most normalized life, transforming the camp in a mini-city and the truth is, they achieved it. The shops and restaurants were on the main streets of the jungle. They were the heart and soul of the camp. At the same time, they served as sustenance for many people (us included) where they bought a lot of goods for their meals or even food to snack during the day. Besides the restaurants, they had martial arts classes or other fitness lessons in the gym built from scratch by the camp residents. During the night, many of them went to the disco (improvised within 4 wooden placards) to have some fun.

4. The most common nationality is not Syrian

Yes, after the most recent events involving refugees, is normal to associate the word "refugee" to someone from Syria. The truth is that in the Calais camp, most of the people were Sudanese and Afghan. This didn't surprised us because we knew this before going there, but allowed us to learn more about what is going on in their countries like Sudan and Eritrea on which we did not knew much about.

5. It's very hard to tell someone's age

Yes, tell someone's age in the Jungle was a real challenge. They all look much older than they are. Of course, with some underage kids we could see that they were younger, but generally we couldn't guess their ages. They age much faster for living in these conditions and growing up in this kind of environment.

6. They know Portugal because of Cristiano Ronaldo

The number of Portuguese flags around the jungle has left us surprised and made us super proud of our country! Many of them said that they wanted to go to Portugal (for being a country willing to receive refugees) but the majority of them knows our country because of Cristiano Ronaldo. 99% of the refugees we spoke to, after knowing that we were Portuguese, asked "Oh Cristiano Ronaldo?" And from that moment we no longer had a name, we were both Cristiano Ronaldo!!

7. The food was really good!

Besides the food supplied to them (or even purchased), as we explained before, they had restaurants in camp. We had the opportunity to taste Afghan and Sudanese food and we can say that the food is delicious (for those who know Dani you know she's a picky eater and even she liked it!). One of our previous posts said that every day we would buy Naan to eat at lunch and trust us, is one of the things we miss the most!

8. We really can help making a difference

We know that sounds like a cliché that everyone is used to hear, but believe that it's really true! Each of us, contributing to a stronger collective, can make a difference. When we speak about this adventure it's common to hear people saying "Great gesture! The world needs more people like you" when in fact, each one of you can do the same. Actually (and we know that is another cliché) we must be the change that we want to see in the world and the truth is: EACH ONE OF US can be that change. You just need to want it!

9. Cherish what we have

After spending one and a half month in the Jungle it's very difficult for us to look at life in the same way. We learned to relativize our problems because there are things much worse and now we are well aware of that. It's important to value all that we have mostly our friends, family and the fact that we live in a country that allows us to live in peace.

10. One day could be us

Being there and receiving people every day from so many different places, in so many different life circumstances, made us realize that bad things could happen to anybody and that no one is free that one day war knock at our doors. We received people who a few months ago had great professions in their countries and great lives and they were in the Jungle, living in a camping tent. All of us seek the same thing: a happy, dignified, peaceful life. We all have to be more understanding and accepting these people in our countries, in our cities, always keeping in mind that if it was with us, that's the way we would like to be treated.

Fomos Duas por Todos // Two for All


E a melhor experiência das nossas vidas chegou ao fim.

Antes de mais queremos explicar o porquê deste silêncio tão prolongado e pedir também desculpa a todos aqueles que seguiam a nossa aventura.

A verdade é que desde que decidimos ficar em Calais por mais tempo a nossa vida sofreu uma grande mudança. Como viver num apartamento na cidade era muito caro, passámos para as caravanas dos voluntários no armazém. Os voluntários de longa-duração têm esta possibilidade e nós aproveitámos.

Viver no armazém foi das melhores coisas que nos podia acontecer. Vivíamos numa verdadeira comunidade de gente boa, sempre disponível para uma boa conversa, para uma boa gargalhada e sempre disponível para ajudar o próximo. A única parte negativa era a falta de energia e de internet. Publicar no blog tornou-se um desafio que se mostrou impossível, apesar de todos os nossos esforços. Para piorar a situação, o único computador que tínhamos avariou.

À medida que o tempo ia avançando em Calais os nossos sentimentos também se alteraram. A cada dia que passava o nosso amor por esta causa, por estas pessoas, pelo nosso trabalho ia aumentando. O fecho do campo fez com tivéssemos que estar presentes em muitas reuniões para se pensar em estratégias para tornar este processo o mais fácil possível para os residentes do campo. Ao mesmo tempo o nosso trabalho na Welcome Caravan continuava e cabia-nos também falar com as pessoas para lhes explicar o que se estava a passar. O ambiente mudou nas últimas semanas, as pessoas estavam mais desesperadas, mais preocupadas, mais tristes. Havia muitos rumores no campo, muitas incertezas e muita gente sem um plano para o seu futuro. Partia-nos o coração receber pessoas novas todos os dias, montares-lhes uma tenda sabendo que os seus dias ali estavam contados.

Nas últimas semanas que lá estivemos houve também várias situações de calamidade como um fogo que desalojou 120 pessoas e uma inundação que também desalojou outra quantidade enorme de pessoas. Trabalhámos muito com a nossa equipa incrível, passámos muitas horas no terreno a tentar que todos tivessem uma tenda até ao anoitecer. Percebemos que em situações de desespero somos muito mais fortes do que alguma vez achámos. Bastava olhar à nossa volta e ver a forma como todos se ajudavam uns aos outros. Percebemos que os que menos têm são sem dúvida os que mais dão.

Chegámos a Portugal há uma semana mas foi-nos impossível escrever uma frase. Viemos com o coração do tamanho de uma ervilha por saber o que viria a acontecer no campo e por saber que não poderíamos continuar a lutar ao lado deles. Há muitos sentimentos que ainda estamos a processar. É difícil chegar de novo á nossa realidade e sermos as mesmas pessoas. Não dá mesmo. Lidar com aquela realidade, ver o que são pessoas em sofrimento, a viver naquelas condições e ainda assim a sorrir, fez-nos olhar para a vida por outra perspetiva. Ganhámos um novo respeito. Podemos dizer que fizemos amigos no campo para a vida e que tivemos o privilégio de conhecer pessoas que merecem tudo o que há de melhor neste mundo. Entristece-nos quando saem notícias sobre o campo e nunca nenhuma é positiva. Entristece-nos quando as pessoas escolhem olhar para o mal de uma pessoa e generalizar às outras 11.000. Como em todo o lado, nem todas pessoas são boas, nem todas têm os mesmos valores. O que queremos que vocês saibam é que provavelmente 99% deles são pessoas maravilhosas, que apesar da situação em que estão, conseguem mostrar um sorriso e ter atos de amor completamente fascinantes. Vimos tantas situações que nos derreteram o coração, tantos gestos de amor para connosco e para com outros que só estando lá era possível perceber.

Agora que o campo está a ser desmantelado temos sentimentos mistos. É difícil por um lado pensar que o sítio onde fomos tão felizes está a desaparecer mas, ao mesmo tempo, sentimo-nos felizes porque chegou ao fim. Ninguém merece viver naquelas condições. Ninguém.

É estranho falar em felicidade num sítio tão desagradável mas a verdade é que ela existe. Nós fazíamos todos os esforços para tentar que os residentes se sentissem bem, que se rissem connosco, que se sentissem felizes dentro dos possíveis. Sentíamos que essa era também a nossa missão. Só queremos que todos eles acabem em sítios incríveis onde tenham o respeito e consideração que merecem. Onde consigam ter aquilo que todos nós queremos: ter uma vida digna e em paz. É só isso que eles querem. Eles não são criminosos, não fizeram mal a ninguém. Eles estão a fugir da guerra, de situações completamente dramáticas. Não têm que ser castigados por isso.

Calais foi a experiência mais poética das nossas vidas porque percebemos que tudo o que aconteceu de mau e de bom teve uma razão e todo este processo mostrou-nos coisas acerca de nós próprias que nós não sabíamos. Crescemos muito e aprendemos lições que nunca na vida vamos esquecer. Fizemos amigos para a vida tanto voluntários como residentes do campo. A nossa amizade ficou ainda mais forte e agora temos um respeito uma pela outra completamente diferente. Um respeito de quem "lutou" lado a lado todos os dias, pela mesma causa e nunca desiludiu. Descobrimos a melhor versão de nós.

O caminho agora é para a frente. Há mais pessoas para ajudar, mais missões para serem cumpridas e o nosso objetivo é ir. Ir mais além e dar o melhor de nós. Todos os dias. Espalhar amor é a coisa mais fácil deste mundo e ao mesmo tempo a mais gratificante. Quem semeia amor, recebe amor e nós recebemos às toneladas.

Obrigada, do fundo do coração, a todos os que tiveram desse lado e que nos apoiaram. Acreditem que pensámos em vocês muitas vezes e somos muito gratas por todas as pessoas incríveis que temos na nossa vida.

Esperamos sinceramente ter inspirado alguém a fazer o mesmo, a dar o melhor de si a quem mais precisa. Esse sempre foi o nosso objetivo. Foi um verdadeiro prazer partilhar esta experiência com vocês (apesar de não ter sido tanto como esperávamos).

De nós as Duas, para vocês Todos um Muito Obrigada!

And the most beautiful experience of our lives come to an end.

First of all we want to explain why we were so silent for so long and also apologize to all of you who followed our adventure.

The truth is that since we decided to stay longer in Calais, our life suffer a major change. Living in an apartment in the city was very expensive so, since the long-term volunteers can live in the caravans in the warehouse, we move there.

Living at the warehouse was the best thing that could happen. We lived in a true community of good people, always available for a good conversation, a good laugh and always available to help others. The only thing that was not great was the lack of energy and internet. Posting on the blog became a challenge proved impossible, despite all of our efforts. To make things even worse, the only computer that we had broken down.

As time progressed in Calais our feelings have also changed. Every day our love for this cause, for these people, for our work increased. The eviction made the organization rethink strategies which involved a lot of meetings to make this process as painless as possible for the camp residents. At the same time our work in the Welcome Caravan continued and it was also up to us to talk to the residents about what was happening. The environment changed the last few weeks, people were more desperate, more preoccupied, more sad. There were many rumors in the jungle, many uncertainties and many people without a plan for the future. It broke our hearts to receive new people every day, pitching them a tent knowing that his days there were numbered.

In our last weeks there were also several disaster situations like a fire that displaced 120 people and a flood that also displaced another huge amount of people. We worked hard with our incredible team. We spent many hours on the ground trying to get everyone settled before night. We realized that in desperate situations we are much stronger than we ever expected. It was incredible to look around and see how everyone was helping each other. We realized that those who have less are undoubtedly the ones that give the most.

We are in Portugal for a week now but it was impossible for us to write a sentence. We came with a heart the size of a pea knowing what was happening in the jungle and that we could not continue to fight for them. There are many feelings that we are still processing. It is difficult to adjust to our reality again. We are not the same people. It's impossible to be. Dealing with that reality, see what they are going through, the conditions that they are living in and the way that most of them still smiles, made us look at life in another perspective. We have a new respect for life now.

We can say that we've made a lot of friends in the jungle. Friends for life. We had the privilege of get to know people who deserve all that is best in this world. It really break our hearts to see what comes out in the media about the jungle and that every time is something negative. It's sad how people choose to look at a person's bad action and generalize to the other 11,000. Like everywhere, not all of the people are good, not all of them have the same values. What we want you to know is that probably 99% of them are wonderful people that despite the situation they are in, they have completely fascinating acts of love. We have seen so many situations that melted our hearts, so many gestures of love for us and for others that it's impossible to describe.

Now that the jungle is being dismantled we have mixed feelings. It is difficult in the way that the place where we were so happy is disappearing but at the same time, we are happy because it came to an end. No one deserves to live in those conditions. No one.

It is strange to speak about happiness in a place as unpleasant as the jungle but the truth is that it exists. We worked every day to try that them to feel good, laughed with us and be happy. We felt that this was also our mission. We just want that all of them end up in amazing places where they have the respect and consideration that they deserve. Where they can have what we all want: a dignified and peaceful life. That's all they want. They are not criminals. They are running from war, very dramatic situations. They don't have to be punished for it.

Calais was the most poetic experience of our lives because we realize that everything, good and bad, happened for a reason and this whole process showed us things about ourselves that we did not knew. We grew a lot and we learned lessons about life that we ​​will never forget. We made friends for life both volunteers and camp residents. Our friendship became even stronger and now we have a new respect for each other. A respect for someone who "fought" side by side every day, for the same cause and never disappointed. We found the best version of ourselves.

The way is now forward. There are more people to help, more missions to be fulfilled and our goal is to go. Go further and give the best of us. Every day. Spreading love is the easiest thing in the world and at the same time the most rewarding. The ones who spread love, receive love in return and we received tons.

Thank you, from the bottom of our hearts, to all of you who supported us. We thought a lot about you and we are very grateful for all of the amazing people that we have in our lives.

We sincerely hope to have inspired someone to do the same, to give the best of themselves to those in need. This has always been our goal. It was a real pleasure to share this experience with you (although not as much as expected).

From both of us, to all of you: Thank you!

O quotidiano do campo // The daily life at the jungle


Passadas duas semanas e meia aqui, sentimos que está na altura de falar sobre como é a vida no campo. Ao contrário do que imaginávamos antes de chegar, o campo é muito mais do que as tendas. Para nossa surpresa o campo tem restaurantes, lojas, igreja, mesquitas e discotecas/bares (muito rudimentares). Tudo isto construído pelas pessoas refugiadas.

Agora vocês devem estar a pensar: Como? Como têm dinheiro para isso ou como conseguiram construir? Nós perguntámos o mesmo. A verdade é que muitos têm dinheiro que trouxeram dos seus países e aproveitam para investir no campo. Outros restaurantes e lojas foram montados por pessoas que vieram especificamente para montar um negócio.

Dentro do campo podemos encontrar restaurantes de comida afegã, sudanesa, paquistanesa, lojas de pão, mercearias, lojas de roupa (muito pouca) e um ginásio. Claro que as infra-estruturas não são as melhores mas a verdade é que com pouco, muitos conseguiram construíram espaços fantásticos. A comida dos restaurantes é maravilhosa e o pão (naan) é simplesmente incrível. Todos os dias vamos comprar para comer ao almoço.

O campo é como se fosse uma mini sociedade. As pessoas estão a tentar construir uma vida normal, tal como nós estamos habituados em qualquer parte do mundo.

Para além destes serviços o campo tem também escolas, um centro de apoio para mulheres e crianças, um centro de saúde, caravanas de primeiros socorros, um centro juvenil (tipo ATL para crianças), um gabinete de apoio legal, pontos de distribuição (roupa, produtos de higiente, utensílios de cozinha, cobertores, etc) cozinhas comunitárias e ainda um espaço dos médicos sem fronteiras. Todos estes serviços são providenciados por ONG e instituições de solidariedade social.

O campo está dividido por comunidades (afegã, paquistanesa, sudanesa, etc..) mas não é obrigatório que as pessoas que chegam se tenham que instalar nas suas comunidades de origem. Para além das tendas de campismo que todos conhecemos, existem também os abrigos construídos por eles, tendas de maior capacidade (tendas do exército), contentores onde só vivem cerca de 1500 pessoas e caravanas (mais utilizados pelas famílias).

Durante o dia há pouco para fazer e cada um arranja formas de passar o tempo. Praticar desporto é uma das formas mais utilizadas (ginásio, jogos de críquete, jogos de futebol e basquetebol). Muitos passam tempo nos restaurantes e lojas e uma grande parte aproveita para ir à escola (onde podem aprender várias línguas ensinadas por voluntários de todas as partes do mundo).

Todos os dias somos questionadas sobre o que achamos de toda a situação e nós respondemos sempre o mesmo: que o facto de eles estarem a construir uma vida melhor para eles, nem que seja no campo, só demonstra o quão resilientes conseguem ser e que é incrível como tentam "dar a volta por cima".  

After two and a half weeks here, we feel it's time to talk about the daily life in the jungle. Contrary to what we thought before arriving, the jungle is much more than the tents. To our surprise the jungle has restaurants, shops, church, mosques and nightclubs / bars (very rudimentary). All this built by refugees.

Now you must be thinking: How? How they have the money for it or how they managed to build? We asked the same questions. The truth is that many of them have money that they brought from their countries and take the opportunity to invest in the field. Other restaurants and shops were set up by people who specifically came to set up a business.

In the jungle we can find Afghani, Sudanese, Pakistani food restaurants, bakeries, grocery stores, clothing stores (that don't have much) and a gym. Of course, the infrastructure are not the best but the truth is that some have built fantastic spaces. The food at the restaurants is wonderful and the bread (naan) is simply amazing. Every day we buy to eat at lunch.

The jungle is like a mini society. People are trying to build a normal life, as we are used anywhere in the world.

Apart from these services the jungle also has schools, a support center for women and children, a health center, first aid caravans, a youth center, a legal support office, distribution points (clothing , higiente products, kitchenware, blankets, etc.) community kitchens and also a doctors without borders space. All of these services are provided by NGOs and charities.

The jungle is divided by communities (Afghanistan, Pakistan, Sudanese, etc ..) but it is not mandatory that people who arrive have to live in their home communities. In addition to camping tents that we all know, there are also self built shelters, higher capacity tents (army tents), containers where only live about 1500 people and caravans (most used by familys).

During the day there's not much to do and they have to arrange ways to pass the time. Playing sports is the most common (gym, cricket matches, football and basketball games). Many spend time in restaurants and shops and a large part go to school (where they can learn various languages ​​taught by volunteers from all over the world).

Every day we are asked about what we think of the whole situation and we always answer the same: the fact that they are building a better life for them, even if it is in the jungle, just shows how resilient they can be and that is incredible the way they try to get their lives back on track. 


O campo (des)conhecido // The (un)known jungle 


Estamos exatamente no dia que marca o meio da nossa aventura em Calais. Se por um lado sentimos que já vivemos tanto, por outro, sabemos que ainda temos muito mais para viver por aqui. É incrível como com apenas uma semana e meia de trabalho, já sentimos que estamos aqui há meses! Caras estranhas são hoje caras familiares, tarefas antes complicadas, hoje são básicas e rotineiras, caminhos desconhecidos são agora os caminhos conhecidos de todos os dias. 

Passar o dia todo no campo faz com que, em pouco tempo, nos sintamos parte dele. Os receios já não existem, os cuidados redobrados são agora substituídos pela confiança e familiaridade que faz com que as duas já sejamos uma equipa independente (que até já ensina os novatos!!). 

É um sentimento indescritível ver a forma como as pessoas que vivem no campo começam a confiar em nós e, acima de tudo, nos vêem como alguém que os respeita, não julga e os quer ajudar. É impossível dar dois passos sem que alguém nos cumprimente, aperte a mão ou nos pergunte como estamos. Muitos já sabem o nosso nome de cor e passamos o dia a receber convites para beber chá (muitos aceites, ao ponto de já estarmos a enjoar o sabor). 

As relações que vamos criando vão ficando mais fortes e a vontade de continuar aqui é cada vez maior. Todos os dias conhecemos pelo menos uma pessoa que nos faz sorrir e que nos dá força para voltar no dia seguinte. 

Aquilo que imaginámos antes de vir para Calais é agora uma memória longínqua. Estar no campo é uma aprendizagem contínua que nos mostra a cada dia como algumas concepções que tínhamos estavam erradas (que o campo era um sítio super perigoso, as pessoas eram agressivas, etc). Estar aqui, dar um tecto a estas pessoas, ver com os nossos olhos esta realidade, sentir o que é estar na jungle, caminhar pelas mesmas ruas, sentir os cheiros e ouvir as histórias, muda o cenário totalmente. Não existem palavras suficientes que façam justiça a este sentimento. Só vos podemos dizer que vale muito a pena virem ver com os vossos próprios olhos aquilo que nós não conseguimos descrever.  

Antes pensávamos que íamos fazer parte da jungle. Agora sentimos que a jungle faz parte de nós. Somos um membro destas comunidades. E querem saber? Não podíamos estar mais felizes e realizadas. 

Today is the day that marks the middle of our adventure in Calais. If in one hand we feel that we already lived it all, on the other, we know that we still have much more to live here. It's amazing how in just a week and a half working we feel that we are here for months already! Strange faces are now familiar faces, complicated tasks before today are basic and routine, unknown paths are now known ones. 

Spending all day in the jungle means that, before long, we feel part of it. Fears no longer exist, the extra care is now replaced by trust and familiarity and transformed the two of us in an independent team (who has even started to teach beginners!!). 

It's an indescribable feeling to see how people who live in the jungle begin to trust us and, above all, how they see us as someone who respects them, do not judge and want to help. We don't walk two steps without someone to greet, shake hands or ask us how we are. Many already know our name and we keep getting invited to drink some tea (which we go too often, even making us sick of it's taste somehow). 

The relationships that we create are becoming stronger and the desire to continue here is growing. Every day we know at least one person that makes us smile and that gives us strength to come back the next day. 

What we imagined before coming to Calais is now a distant memory. Being in the field is a continuous learning that shows us every day how some conceptions we had were wrong (the field being a dangerous place, people were aggressive, etc.). Being here, give a roof to these people, seeing with our eyes this reality, feeling what it is to be in the jungle, walking the same streets, feeling the smells and hearing the stories changes the scenario completely. There are not enough words to do justice to this feeling. We can only say that you should come and see with your own eyes what we can not describe through words. 

Before we thought we were going to be part of the jungle. Now we feel that the jungle is part of us. We are a community member. And you know what? We could not be more happy and fulfilled. 

Os voluntários // The volunteers

Tanta gente boa num só lugar // So many good people in one place

Calais. Para além de ser o palco deste cenário terrível é também o palco dos maiores atos de generosidade que alguma vez vimos. Quando se pensa em fazer voluntariado pensa-se na missão e vem-se com o objectivo definido. O que é maravilhoso é encontrar pessoas de todas as partes do mundo dispostas ao mesmo que nós. O sentimento de camaradagem, empatia, amizade e carinho crescem de hora para hora sem darmos por isso. Num dia ganhamos amigos para a vida. 

Desde que chegámos, há pouco mais de uma semana, já conhecemos imensas pessoas pelas quais nos "apaixonámos". Todos os dias conhecemos pessoas novas e todos os dias há histórias para partilhar. Parece que vivemos numa bolha onde só existem pessoas incríveis e ninguém desilude. Cada um é mais interessante que o outro. É estranho porque isso não acontece na nossa vida normal. Em contrapartida há também o sentimento de vazio quando alguém vai embora o que, infelizmente, acontece também diariamente. Um "olá" acontece tão rapidamente como um "adeus". Custa. Custa muito.

É reconfortante saber que existe tanta gente boa no mundo e que apesar das culturas serem diferentes e as línguas também, o sentimento de ajudar o próximo faz com que todos sejamos uma grande família unida. Nem tudo é perfeito no nosso trabalho mas, quando é preciso, há sempre alguém por perto para nos dar força e um abraço. Afinal, estamos todos no mesmo barco. 

Todas as noites o encontro é no Family Pub. É impossível passar por lá e não ver uma mesa cheia de voluntários. Entre gargalhadas, conversas animadas, alguns desabafos e partilha de ideias, todos são convidados a sentarem-se e a partilharem o seu dia. É um verdadeiro espírito de comunidade.

Os nossos colegas de casa são a nossa família aqui. Chegar a casa é sempre uma alegria e nós tivemos a sorte de ficar com pessoas fora de série. Todos os dias são diferentes.

Ainda temos muita gente para conhecer e muitas conversas para ter.  Sabemos que as ligações de Calais são para a vida e isso faz com que todos os momentos menos bons que possamos passar durante o dia valham a pena.

A todos vocês voluntários de todas as partes do mundo, no ínicio colegas e agora amigos: um grande, enorme, obrigada!

Calais. Though we find ourselves in terrible circumstances, we are also witness to many amazing acts of generosity. When we think of volunteering we think about the mission and the goal. What is wonderful is to find people from all over the world willing to do the same. The sense of camaraderie, empathy, friendship and affection grows within hours of meeting . In one day we make friends for life.

Since arriving just over a week now, we already got to know a lot of people by which we "fell in love". Every day we meet new people and every day there are stories to share. We feel like we are living in a bubble full of amazing people that never disappoint. Each one is more interesting than the next It's strange because this doesn't happen in our normal lifes. On the other hand there is also the feeling of emptiness when someone leaves which, unfortunately, also happens every day. A "hello" happens as quickly as a "goodbye". It hurts. Really really hurts.

It's comforting to know that there is so many good people in the world and despite the difference of cultures and languages, the feeling of helping others makes all of us one big united family. Not everything is perfect in the jungle but, when needed, there's always someone around to give us strength and a hug. After all, we are all in the same boat.

Every night the meeting point is the Family Pub. It's impossible to go there and not see a table full of volunteers. Between laughter, cheerfull conversations and sharing ideas, everybody is invited to sit down and share their day. There's a real community spirit.

Our flatmates are our family here. Coming home is always a joy and we were fortunate enough to live with amazing people. Every day is different.

We still have a lot of people to meet and many conversations to have in our journey here. We know that some of this connections are for life and this makes all the bad moments worthwhile.

To all of you volunteers from all around the world, at the beginning colleagues and now friends: a huge, huge, thank you! 


A Caravana de Boas-Vindas // The Welcome Caravan 

O primeiro dia de trabalho no campo // The first day working at the jungle

Hoje foi o nosso primeiro dia de trabalho no campo. Primeiro pensámos que iamos trabalhar na equipa de distribuição de roupa mas afinal fomos alocadas à equipa de recepção dos novos moradores do campo. 

É nesta caravana que dezenas de pessoas por dia, acabadas de chegar,  têm o primeiro contacto com o ínicio de mais uma etapa das suas vidas. O nosso trabalho consiste em fazer uma primeira avaliação do que é necessário e do sítio mais apropriado para as pessoas se instalarem. Depois é-lhes dada uma tenda e um pack inicial que contém um saco-cama, uma colchonete, um cobertor e um kit básico de higiene. A nossa equipa é responsável por montar as tendas, ver se o sítio é seguro e fazer os arranjos das tendas estragadas. Temos também que os introduzir no campo dizendo-lhes quais os serviços dos quais podem usufruir (distribuição de roupa, comida, madeira, equipas de apoio legal, etc.). Todos os dias às 17h a equipa volta a distruibuir cobertores e sacos-cama para todos os que precisarem.

O primeiro dia foi óptimo, montamos várias tendas e conseguimos conhecer um pouco das histórias dos recém-chegados. O almoço todos os dias é servido na casa do Musa, um refugiado sudanês que já vive no campo quase há um ano. Ao longo do tempo foi conseguindo juntar alguma mobília e agora tem uma sala onde acolhe todos os voluntários (ele diz que a casa não é dele, é de todos). A temperatura mudou durante a tarde e começou a chover. Em duas horas o campo ficou alagado o que não nos permitiu continuar a trabalhar. Vai chover durante uma semana o que implica que tenhamos que trabalhar com chuva mas para nós não interessa, o trabalho não pode parar. Há pessoas a chegar todos os dias e nós somos os responsáveis por estas terem um tecto para dormir. Estamos super entusiasmadas com o ínicio deste novo capítulo. Temos agora duas semanas inteiras para fazer aquilo que sempre quisemos: distruibuir o máximo de amor possível.   

Today was our first day of work at the jungle. First we thought we were going to work on the clothes distruibution team but finally we were allocated to the Welcome caravan. 

This caravan receives dozens of people a day. We are the first point of contact for those starting a new stage of their lives. Our job is to make the first assessment of what they need and decide the most appropriate place for them to settle. Then, they are given a tent and a starter pack containing a sleeping bag, a mattress, a blanket and basic kit of toiletries. Our team is responsible for assembling the tents to see if the place they´re staying is safe, and make arrangements for damaged tents. We also have to introduce them to the jungle and we have to tell them what services they can use (clothing distribution, food, firewood, the legal advice office, etc.). Every day at 17h the team comes back to do the blankets and sleeping bags distribution. 

The first day was great, we set up several tents and got to know some of the stories of the new arrivals. Lunch is served every day at Musa's home, a Sudanese refugee who has now lived in the jungle for almost a year. Over time he managed to put together some furniture and now has a room where he welcomes volunteers everyday (He says the house is not his, it is for us all). The temperature changed during the afternoon and it started to rain. In two hours the jungle was flooded, which forced us to stop work. It will rain for the next week, which means we have to work with rain but we don't mind, the work can't stop. People are coming every day and we are responsible for them having a roof over their heads. We are super excited about the beginning of this new chapter. We now have two full weeks to do what we always wanted: giving the maximum love possible.

O campo // The jungle


Chegou a altura de falar sobre o campo. Para sermos honestas, por muito que tentemos é muito difícil descrever aquilo que vimos e que estamos a sentir. É duro, muito muito duro. As histórias que temos ouvido têm-nos enraivecido de uma forma que nunca pensámos. Já conhecemos alguns refugiados que, por iniciativa própria, nos têm contado as suas histórias desde como foi a viagem até chegarem a Calais, até à realidade vivia no campo. 

Para terem uma noção, cada travessia dos seus países de origem dura entre seis a nove meses e, das centenas de pessoas que partem em busca de uma vida melhor, são dezenas as que chegam ao destino final. As outras acabam por morrer de cansaço ou são mortas. Durante toda a travessia estas pessoas inocentes têm que se sujeitar à máfia e pagam milhares de euros para tentar chegar em segurança. É preciso ter em mente que todas estas pessoas estão a fugir de um cenário que nenhum de nós consegue imaginar. Guerra da mais violenta possível. 

No campo conhecemos o Ali, um refugiado afegão de 25 anos que já fez a travessia cinco vezes e, sempre que chega ao Reino Unido, é deportado de novo para o Afeganistão. Para uma pessoa se sujeitar a este processo cinco vezes é porque a situação não é nada boa. 

Há muito para falar sobre o campo mas o mais importante é que várias culturas dividem o mesmo espaço, mesmo tendo maneiras de viver completamente diferentes. Nem sempre é fácil, mas podia ser bem pior. No campo a maioria são homens e estes estão separados das mulheres e crianças, por questões de segurança visto que elas estão em minoria. São mais de 8000 homens. Não há muito para fazer durante o dia até porque os cidadãos franceses não aceitam bem a situação e muitos sítios não os aceitam servir. 

A polícia (CRS) é o elemento mais horrível desta história toda. Tratam-nos como se fossem animais e agem como soldados que sofreram uma lavagem cerebral. Não entram no campo porque não é seguro mas cobardemente, durante a noite, atacam-nos com tear gas e às vezes com balas. Muitas vezes infiltram-se no meio deles, na chamada "A Caminhada" (percurso que fazem para tentar escapar que tem a duração de três horas) e aprendem todos os truques. Mal podem atacam-nos, mais uma vez, cobardemente. De formas que nenhum ser humano merece ser tratado. 

Temos muitas coisas para vos contar mas decidimos que queremos contar devagar porque para nós está a ser um processo díficil digerir toda esta informação. Para nós e para todos os voluntários aqui presentes. É um sentimento comum a todos. Só vivendo aqui e contactando com esta realidade é possível perceber. Estas pessoas precisam de muita ajuda, são pessoas inocentes. Cada vez mais a expressão "Hoje são eles, amanhã podemos ser nós" tem mais importância para nós as duas. Ninguém está livre. É triste perceber que nem todos são cidadãos de primeira classe. É preciso fazer alguma coisa. Rápido. 

It's time to talk about the jungle. To be honest, as much as we try is very difficult to describe what we saw and what we are feeling right now. It's hard, very very hard. The stories we have heard shocked us in a way that we never thought. We already got to know some refugees that on their own initiative, have shared their stories from how was the trip to get to Calais, to the reality they live at the jungle.

Just so you can understand, each crossing lasts between six to nine months, and from the hundreds of people who escape searching for a better life, only a few tens arrive at the final destination. The others eventually die of exhaustion or they are killed. Throughout the crossing these innocent people have to be subjected to the Mafia and they pay thousands of euros to try to reach safely. We must keep in mind that all of these people are running away from a scenario that none of us can imagine. The most horrific war.

At the jungle we met Ali, an Afghan refugee who is 25 years old and who have made the crossing for five times now. Everytime he gets to the United Kingdom is deported back to Afghanistan. To be subjected to this process five times the situation must be awful.

There is a lot to say about the jungle but the most important thing is that different cultures share the same space, even though they have completely differents ways of living. It's not always easy but it could be worse. In the jungle most of the refugees are men and they are separated from women and children, for safety reasons. They are more than 8000 men. There's not much to do during the day partly because French citizens do not accept the situation and many places in Calais do not accept to serve them.

The police (CRS) are the most horrible part of this whole story. They treat them like animals and act as soldiers who suffered a brain wash. They don't go into the jungle because it's not safe to them but cowardly, at night, they attack the refugees with tear gas and sometimes, bullets. Often the police act undercover on the so-called "The walk" (the journey the refugees do to try to escape that lasts three hours) and learn all the tricks. Then, the police attack them, again, cowardly. No human being deserves to be treated like this.

We have many things to tell you guys, but we decided that we want to tell you slowly because for us is a difficult process digesting all this information. For us and for all the volunteers that are here. It's a feeling common to us all. Just living here and contacting with this reality its possible to understand. These people need a lot of help. They are innocent people. Now the expression "Today that's them, tomorrow could be us" is more important to us both. No one is safe. It's sad to realize that not all are first-class citizens. Something has to happen. Fast.

O armazém // The warehouse

O cérebro da operação //  The brain of the operation

Sem dúvida que toda a operação começa pelo armazém. É lá que temos passado a maior parte do tempo e definitivamente há sempre coisas para fazer. O armazém abriga toda a comida e donativos (roupa, calçado, produtos de higiene, sacos-cama, colchões, tendas).

Todos os dias chegam pessoas novas para ajudar por isso é necessário que todos os dias de manhã haja um briefing (que já explicamos no post abaixo) para que todos estejam em sintonia em relação aos recados importantes e para que sejam distribuidos os trabalhos dentro do armazém. 

Mesmo que este trabalho seja voluntário e não seja uma coisa oficial, toda a gente trata esta experiência como se fosse um trabalho real, ou seja, há um compromisso com a função recebida tentanto sempre que haja respeito pelas orientações e pedidos dos supervisores. 

Há várias funções dentro do armazém. Nós já experimentamos duas - Cozinha e Comidas Frias. Na próxima semana vamos trabalhar no campo, na equipa de distribuição de roupa por isso o nosso tempo no armazém vai ser reduzido. 

As funções todas são: 

  • Cozinha - onde são preparadas mais de 3000 refeições por dia. Todos os dias são alimentadas cerca de 3000 pessoas no campo e ainda é feita comida para os voluntários. Os trabalhos aqui consistem em cortar legumes, pão, lavar loiça (muita muita muita loiça!) e preparar aquilo que seja necessário. 
  • Comidas frias - onde são preparados sacos com comida para uma semana para duas, cinco ou dez pessoas.  Cada saco contém: leite, óleo, tomate enlatado, farinha, especiarias, chá, cebolas e bolachas. 
  • Madeiras - onde é cortada madeira para entregar no campo de forma a que todos tenham uma forma de cozinhar o que lhes é dado e no inverno servir também como meio de aquecimento. 
  • Dormidas - onde é feita a triagem de todo o material necessário para dormir (sacos-cama, cobertores, colchões e tendas).
  • Roupas - onde é feita toda a triagem da roupa e calaçado recebidos. O que não é apropriado para o campo vai para a loja de caridade (dentro do armazém) e é vendido por preços inacreditavelmente baixos aos voluntários. 
  • Higiene - onde é feita a selecção e triagem de todos os produtos de higiene doados. 
  • Loja de caridade - onde são vendidos todos os artigos doados que não são apropriados para o campo (roupa, calçado, malas, produtos de beleza, livros, etc).

O armazém é a parte mais importante de toda a operação, onde tudo é produzido para ajudar quem vive no campo. Se esse trabalho não existisse, o resto também não existia. Toda a gente que chega quer logo ir para o campo mas as coisas não funcionam assim. Quem vem por menos de uma semana colabora apenas nestes trabalhos do armazém pois para ir ao campo é preciso um treino (que é o que temos andado a fazer e por isso não temos dado novidades) que só é feito para pessoas que fiquem mais tempo. 

O incrível de tudo isto é que não há ninguém verdadeiramente responsável pela operação e todas as metedologias de trabalho e todo o material foram arranjados através de ideias de voluntários. Todas as ideias são válidas e há sempre espaço para melhorar, daí a necessidade de virem mais pessoas para aqui ajudar esta organização a crescer. 

Definitely the whole operation begins at the warehouse. That's where we spent most of the time and there are always things to do. The warehouse houses all the food and donations (clothes, shoes, hygiene products, sleeping bags, mattresses, tents).

Every day come new people to help so it is necessary that every day in the morning there is a brienfing (which we explained in the post below) so that everyone is in tune and for jobs to be distributed within the warehouse.


Even though this work is voluntary and is not an official thing, everybody treats it like a real job.  There is a commitment with the function and respect for the guidelines and requests from supervisors.


There are several jobs within the warehouse, we've experienced two - Kitchen and Dry Foods. Next week we will work in the Jungle on clothing distribution team so our time in the warehouse will be reduced.

The jobs are:

  • Kitchen - where over 3000 meals are prepared per day.  Every day about 3000 people are fed  in the jungle and is still made food for volunteers. The works here consist of cutting vegetables, bread, washing dishes (a LOT of dishes!) and prepare whatever is needed.
  • Dry Foods - which are prepared bags with food for a week for two, five or ten people. Each bag contains: milk, oil, canned tomatoes, flour, spices, tea, onions and cookies.
  • Wood Yard - where the wood is chopped to deliver in the jungle so everyone manages to cook what is given to them and in winter also serve as a way of heating.
  • Bedding - where all the sleeping material is sorted (sleeping bags, blankets, mattresses and tents).
  • Clothing - where all the clothes and shoes are sorted. What is not appropriate for the jungle goes to the charity shop (in the warehouse) and is sold for unbelievably low prices to the volunteers.
  • Hygiene - where all the donated toiletries are sorted.
  • Charity Shop - where all the donated items that are not appropriate for the jungle are sold to the volunteers (clothes, shoes, handbags, beauty products, books, etc.).

The warehouse is the most important part of the whole operation, where all the things that are needed in the jungle arranjed. If the warehouse did not existed, the rest would not exist either. Everyone who arrives wants to go to the jungle but things do not work like that. Who comes for less than a week works at the warehouse because to go to the jungle its required to go through a trainning process (which is what we have been doing and thats why we have not given news) that is only for people who stay longer.

The amazing thing in all of this is that no one is truly responsible for the operation. All the working methods and materials emerged from the volunteers sugestions. So, all the new ideas are valid and there is always room for improvement, hence the need to more volunteers to come here  to help the organization to grow, 

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O primeiro dia // The first day

Mãos à obra // Hands on

Primeiro dia de trabalho: check! 

8h foi a hora de sair de casa em direção ao armazém. Depois de uma caminhada de 10 minutos e uma viagem de 15 minutos de autocarro, chegámos. Rapidamente descobrimos um ambiente entre voluntários super acolhedor e alegre. 

O primeiro passo à chegada foi fazer o check-in no managing office onde recebemos as regras tanto do armazém como do campo, a história da Help Refugees (basicamente uma overdose de informação que percebemos no fim se resumia em duas páginas!). Juntamente tivemos que assinar um termo de responsabilidade onde assumimos os riscos de qualquer eventualidade. 

Por volta das 10h assistimos ao briefing matinal, onde com muito boa-disposição, recebemos os recados do dia, notas importantes e as tarefas. Basicamente outra overdose de informação de tudo, literalmente T-U-D-O, como:

  • Fotos: permitidas no interior do armazém só com autorização dos voluntários, cá fora nem pensar, nem a pontos específicos do terreno para não revelar a sua localização (acham estranho? Esse tópico fica para outro post); no campo de refugiados não tirar fotos a ninguém sem pedir permissão e não fotografar crianças por questões de segurança;
  • Polícia: Como lidar com eles dentro do campo (basicamente não lhes tocar e mal olhar para eles)
  • Jornalistas: Não falar com nenhum sem antes falar com os responsáveis da organização;
  • Onde estacionar os carros na rua;
  • A forma como a organização trata os refugiados e como querem que nós os tratemos (com muita dignidade e respeito);
  • Comida: Temos snacks, café, leite e chá durante o dia sempre ao dispor, o almoço é oferecido pela organização (eles pedem uma contribuição mas é opcional e cada um dá o que quer)
  • Folgas: São obrigatórias! Para quem fica cá mais que uma semana eles aconselham mesmo a tirar dias de folga para descansar;
  • Roupa: Tem que ser confortável e para ir para o campo temos que usar calças largas, cobrir o resto do corpo e amarrar o cabelo. 

A tarefa que nos calhou foi ajudar na cozinha. No príncipio não sabiamos bem se iriamos gostar mas acabou por ser um trabalho super divertido (maioritariamente porque toda a gente é super divertida e há sempre algum assunto para falar). O inglês é a língua que todos falam, uns melhores que outros, mas todos se entendem. :) Surpreendentemente encontrámos duas portuguesas, com quem já travámos amizade e até vamos jantar hoje ahahah. 

Entre cortar legumes, fazer saladas, descascar alho e ajudar nas limpezas, o dia revelou-se muito melhor do que alguma vez esperámos (apesar deste cheiro a alho provavelmente ficar empregnado nas nossas mãos até 2025). O almoço foi caril vegetariano e estava incrível! (A Dani não achou o mesmo, ela só comeu mesmo as batatas)

Estes primeiros dias vamos ficar a trabalhar no armazém mas segundo o que nos disseram, segunda-feira já devemos ir trabalhar para o campo. 

Estamos cansadas mas super entusiasmadas! Até agora o balanço é super positivo :) 

Vamos dando novidades, 

P.S: Para os que leram o texto todo, parabéns, aqui fica um brinde. Fotos onde estamos super super favorecidas. 

 


First day of work: check!

8 am was the time to go out into the warehouse. After a 10-minute walk and a 15 minute bus ride, we arrived. Quickly we find an warmful environment with cheerful volunteers.

The first step on arrival was to check in at managing office where we got to know the rules of both the warehouse and the camp, the history of the Help Refugees (basically an overdose of information that we noticed at the end boiled down to two pages!). Also we had to sign a liability waiver where we agreed to take fully responsibility in case of any eventuality.

Around 10 am we attended the morning briefing, where with a lots of humor, we received the messages of the day, important notes and tasks. Basically another overdose of information, such as:

  • Photos: only allowed inside the warehouse with volunteers permission, outside it's a big no no, nor specific spots to not reveal their location (find it strange? This topic is for another post); in the refugee camp we can't take pictures without asking permission first and we can't photograph children for security reasons;
  • Police: how to deal with them within the camp (basically not touch them and barely look at them)
  • Journalists: do not talk to any without talking to the managers first;
  • Where to park the cars in the street;
  • The way the organization treats refugees and how they want us to treat them (with much dignity and respect);
  • Food: we have snacks, coffee, milk and tea available during the day, lunch is offered by the organization (they ask for a contribution but is optional and everyone gives what it wants)
  • Days-off: are mandatory! For those who stay here for more than a week they advise to take days-off to rest;
  • Clothes: have to be comfortable but to go to the camp we have to wear baggy pants, cover the rest of the body and tie the hair.

The task that we got was to help in the kitchen. At first we did not know if we would like it but turned out to be a super fun job (mostly because everyone is super funny and there is always a subject to talk about). English is the language we all speak, some better than others, but everyone understands it. :) Surprisingly we found two Portuguese, who've we became friends and we'll have dinner together today ahahah.

Among chopping vegetables, making salads, peel garlic and help with the cleaning, the day proved to be much better than we ever hoped for (though this garlic smell probably be stuck on our hands until 2025). Lunch was vegetarian curry and it was amazing! (Dani did not think the same, she only ate the potatoes)

These first days we will work in the warehouse but according to what they told us, on Monday we might be allowed at the camp.

We are tired but super excited! So far the results are super positive :)

We'll give news soon,

P.S: For those who have read the whole text, congratulations, here's a gift. Photos where we are super super fabulous (not!)

8 de Setembro // September 8th

O ínicio da aventura // The begining of the adventure

Depois de 7 horas de viagem (que pareceram 70) chegámos ao destino - Calais (surpreendentemente, ainda com força para andar). A expectativa era muita, os nervos também. Do Sá Carneiro partimos para Beauvais, de lá apanhámos um autocarro para Paris e por fim, outro autocarro até Calais. Uma viagem de 4 horas que nos mostrou algumas belas paisagens francesas (só que não).

Calais é uma cidade pequena mas cheia de carisma, com prédios baixos, um canal que faz lembrar o Sena, vários jardins e casas caricatas. Não há nenhum vislumbre do campo a partir daqui. Esse fica a quinze minutos de autocarro. Depois de uma volta rápida para reconhecimento de terreno, foi altura de conhecer a casa que nos vai acolher nas próximas semanas, assim como os nossos flatmates. São todos ingleses e por aquilo que já nos disseram a maior parte dos voluntários também são.

Amanhã é o nosso primeiro dia de trabalho na "Selva" e é difícil adormecer com o entusiasmo. Com o próximo nascer do sol, nasce também a nossa missão. Amanhã damos novidades :)

After a 7 hour journey (that felt like 70) we arrived at our destination - Calais (surprisingly still with strenght to walk). The expectation was huge as well as the nerves. From Sá Carneiro we left to Beauvais, and from there we took the bus to Paris and finally another one to Calais. A 4 hour trip that showed us beautiful french landscapes (not!). 

Calais is a small town but filled with charisma, with low buildings, a river that resembles the Seine, plenty gardens and a lot of funny houses. From here we can't see the camp. To get there it's a 15 minute trip by bus. After a quick walk to field recognition it was time to get to know our house for the next three weeks as well as our flatmates. They're all english and they've already told us that the majority of the volunteers at the camp are english too. 

Tomorrow it's our first day at "The jungle" and it's difficult to fall asleep with the enthusiasm. With the next sunrise starts our mission. Tomorrow we'll give updates :) 


Crédito das fotos // Photo credits @ Calaidipedia
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